O figurino de “Riscado”

Um filme nasce nos pés. Num processo dedicado e saboroso. Quando a gente menos espera, depois de estudar e pesquisar diversas referências, ver diversos filmes e ainda assim não conseguir exprimir seu significado do mundo, ele surge. Antes mesmo do primeiro gole de cerveja, quando você lança o olho em algo que não te diz nada, é justamente nesse momento efêmero, que surge o fundamental.

Riscado foi coletivo, literalmente. Karine Teles me ajudou muito a entender a personagem “Bianca” vivida por ela, construímos cada detalhe juntas, cada peça-chave, cada cor no ato, cada singeleza. Foi nessa elaborada e dispendiosa tentativa que surgiu um filme colorido, diverso e aberto ao mundo. Utilizando materiais simples e tecidos carnavalescos, foi inspirado na idéia do “do it yourself” quando a própria personagem confeccionava seus sonhos através de seus figurinos, por isso a responsabilidade de falar com várias populações ao mesmo tempo. Afinal independente de nossas certidões de nascimento, vivemos conflitos internos muito similares e é difícil ver um artista fugir a regra do massacre do mercado mesmo em diferentes países.

A construção do figurino passou desde a pesquisas constantes de materiais encontrados na
Uruguaiana, quanto a idas a Museus e a madrugadas inteiras em que eu fiquei finalizando
todos os espelhinhos do último figurino do filme, manualmente e na solidão do meu quarto, fui colocando cada emoção sentida, cada carinho recebido e depositando ali as expectativas de que aquele trabalho pudesse tocar pessoas do mundo todo, tarefa difícil e a mais rica do cinema! Muito inspirado na filmografia asiática como “O Sabor da Melancia” de Tsai Ming-Liang, “O Amor de Nabii” de Yuji Nakae e “Like Someone in Love” de Abbas Kiarostami o colorido de Riscado ganhou força nas 4 cores primárias, azul, verde, vermelho e amarelo. Suas variações aparecem temperando cada emoção do filme e cada cor tem uma intenção, todo o momento do filme. São formas unidas a expressões simbólicas de uma linguagem desprovida de estranheza. São narrativas paralelas de gerações domesticadas pela abstração de seus desejos. “Bianca” longe disso se intimida, e carrega em cada frame um olhar mais puro que o outro, cativando por completo os expectadores no meio do filme, na cena em que ela canta Happy Birthday (versão Marilyn Monroe) num teste de elenco e conta porque escolheu ser atriz.

Betty Page, Carmem Miranda e Marilyn Monroe, sãoas referências diretas para a construção da personagem “Bianca” que como toda diva precisa mirar em si para crescer e nada melhor do que confiar em si mesma para desafiar o universo ao nosso redor. Que toda a forma de amor é valida a gente já sabe, mas dar credibilidade ao obscuro que é o grande desafio, e Riscado cumpre seu papel de um filme contemporâneo, firme e autêntico quando lança no ar as incertezas reais da vida. E a beleza disso, porque sim a dor faz parte, faz a história expandir dentro de nós. E todos acabam torcendo e sofrendo com a personagem principal. Que venham outras “Biancas” para nos surpreender com seu olhar e carisma universal.

Link para o trailer

Fabíola Trinca é figurinista e “Riscado” foi o primeiro longa-metragem em que assinou o
figurino vide

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