EQUIPE DE CURADORIA DO FESTIVAL

Anne Santos
Anne Santos, 1983, Duque de Caxias, RJ. Graduada em Ciências Sociais (UFF). Mestranda no Programa de Pós Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes (PPGCA UFF). Atua no campo de sonoridades no audiovisual, com ênfase em som direto e performance sonora. Atua, também, nas áreas de produção e curadoria. Atualmente, desenvolve sua pesquisa no mestrado sobre mapeamento sonoro da Baixada Fluminense. É integrante do coletivo Mate Com Angu.

Flavia Candida
Flavia Candida é curadora, cineasta e produtora egressa do curso de Cinema da UFF, onde dirigiu o curta O Metro Quadrado, Prêmio especial do Júri no 35º Festival de Brasília.
Começou como programadora no fim dos anos 90’s no Cine Arte UFF e coordenou por mais de 15 anos o Festival Brasileiro de Cinema Universitário. Colabora na curadoria de festivais como Festival do Rio, Festival de Cinema de Vitória, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, Festival Internacional de Curtas de São Paulo, FestCômico, e Mostra de Cinema Moventes. Também foi curadora de Cabíria Festival Mulheres & Audiovisual e FIMCine 23, ambos dedicados ao protagonismo feminino. Produziu mostras como Arte da África Cinema e Pequenas Histórias da Vanguarda – Downtown New York. Como consultora de projetos trabalha na seleção dos laboratórios como BrLab, ICUMAM Lab e Lab de Projetos do Curta Cinema e foi tutora no Roteiros do Arrabalde. Esteve no comitê de seleção do Göteborg Film Fund 2021.

Luisa Godoy Pitanga
Antropóloga, documentarista, integrante do cineclube Mate com Angu e sócia da produtora Circular Filmes. Atuou em diversos projetos de educação audiovisual popular pelo Brasil. Faz doutorado em Antropologia social na UFRGS, com pesquisa que entrelaça antropologia visual, arquivo e gênero. Roteirista dos documentários Som dos sinos, Cine-rabeca e Amuleto. Colaborou na curadoria do Festival Mate com Angu de Cinema e da Mostra Cinema Brasileiro em Busca de Estrada.

Wagner Novais
Wagner Novais é diretor, roteirista e professor de cinema. Começou no audiovisual em 2004, na favela da Cidade de Deus. Dirigiu curtas premiados e co-dirigiu “Fonte de Renda”, parte do longa “5x Favela – Agora por Nós Mesmos” (2010). Em 2022, foi Diretor Assistente da série “Os Quatro da Candelária”, da Netflix. Atualmente finaliza dois documentários e um curta, “Cadu Barcellos – Cria não morre, vira lenda”.

 

TEXTO DA CURADORIA PARA A 5ª EDIÇÃO

Cinema, eclipse e reverberação afetiva na Baixada Fluminense

O Festival Mate Com Angu de Cinema chega a sua quinta edição em uma conjuntura política, nacional e internacional, estarrecedora: genocídio na Palestina e nas quebradas, avanço do fascismo/extremismo/conservadorismo, big techs dominando, epidemia das bets e crise climática batendo na nossa porta, tudo isso sob a reverberação astral do eclipse em Peixes. O eclipse total da lua, que ocorreu no dia 07 de setembro de 2025, com auge entre 15h12 às 15h53, transmitido ao vivo pelo Observatório Nacional, sinaliza a conclusão de etapas e o encerramento de processos. Todo fechamento de ciclo é um momento oportuno para que possamos abrir e reinventar novas janelas-mundos possíveis. É a partir do momento eclipsado, que convidamos você a refletir sobre o que é fazer cinema na Baixada Fluminense.
No contexto brasileiro, principalmente nas regiões que foram marginalizadas, fazer cinema é um ato político. Historicamente estigmatizada, a Baixada Fluminense – para além do imaginário de violência construído pelos meios hegemônicos de forma sistemática ao longo dos anos – pulsa vida e resistência. O projeto de poder, para segregar e retirar do povo baixadense possibilidades de experimentações diversas, não se mostrou totalmente eficaz. Nas brechas do sistema, a Baixada reinventa possibilidades de existências plurais desde o período colonial. Desse modo, o audiovisual baixadense nasce e se constitui com a necessidade de hackear status quo, criando uma espécie de sistema dentro do sistema, com estruturas de resistência e estratégias de sobrevivência. É na fuga do sistema vigente, nas fissuras dos padrões de produção do cinema nacional, que a Baixada reescreve suas narrativas imagéticas e sonoras. É na encruza, no portal exuístico, que o cinema baixadense abre seus caminhos. É com uma tecnologia do ‘vira laje’, de trabalhar junto e comer junto a mesma comida, que se faz cinema e arte da Baixada Fluminense. É justamente no levante de um contexto desigual de produção, sem editais ou com bem poucos focados em territorialização, que a Baixada filma (e também faz festival de cinema).
Com olhar e escuta sensíveis para as contradições e singularidades de fazer cinema neste território, que nós da equipe de curadoria adentramos por três meses em um universo de mais de 600 curtas-metragens vindos de todas as regiões do Brasil. De cara nos chamou atenção a quantidade de filmes inscritos, depois a diversidade de vozes: indígena, negra, LGBTQIAP+, interiorana, das quebradas. Percebemos que boa parte dessa produção só foi possível graças à Lei Paulo Gustavo, política pública cultural que alcançou todo o país e viabilizou que outras histórias pudessem ser contadas. Investimento público direto no audiovisual tem impacto e pode sim fazer diferença. Filmes inventivos, distópicos, utópicos, lacradores, poéticos, transgressores, revolucionários. Foi inspirador – em diversos sentidos – conhecer essa produção tão pulsante. Após meses de ralação e trocas online intensas, no dia 21 sob o segundo eclipse de setembro e abrindo o Equinócio da Primavera, chegamos na seleção que apresentamos aqui: 2 sessões competitivas baixadenses, 5 sessões competitivas com o puro suco do curta metragem nacional, 1 sessão panorama fluminense, 2 sessões com curtas para escolas públicas (1 com acessibilidade e ambas com objetivo de formação de plateias) e 4 curtas hors concours para abrir as sessões de longa-metragem. Sintonizada nos ciclos cósmicos, naturais e na reverberação afetiva do nosso modo de produção cinematográfica, que a equipe agradece e espera que vocês aproveitem tanto quanto a gente o mergulho nessas histórias para adiar o fim do mundo.
Saudações!
Flavia Candida, Luisa Pitanga, Wavá Novais e Anne Santos