Entrevista com Cris Miranda

Cris Miranda – a kino-bruxa do Largo do Machado. Ela vai te encantar.

Cris Miranda chegou em nossos corações primeiramente através de seu lindo sorriso, alargando a existencia nos espaços. Depois foi mostrando seus filmes. Lindos. Nas telas e no modo de fazer. Usando latas vencidas e revelando em sua banheira, essa kino-bruxa do Largo do Machado vai fazendo cinema como se faz um delicioso café da manhã. Com os sonhos ainda persistindo no dia que vem por ai.

Ela vai lançar quarta “Maça com Sabor de Gasolina”. Um lindo filme que lança um olhar sobre heróis que teimam em se esconder em nosso cotidiano.

Mate Com Angu: Vou pedir pra você se apresentar…

Cris Miranda: Sou fotógrafa e cineasta.  Comecei minha aventura na arte pela poesia, que até hoje é meu principal combustível.

Mate Com Angu: Quais são suas referências? da poesia ao cinema. Quem te inspirou?

Cris Miranda:  Edgar Allan Poe, Paulo Leminski, Stan Brackage, Ozualdo Candeias, Mojica, Mario Peixoto.

Mate Com Angu:  Galera Boa. Malditos & Marginais. O que te atrai neles?

Cris Miranda:  Apotência poética, a coragem, a imaginação, a audácia, o talento.

MCA:  Vou colocar uma palavra nesse balaio. O “risco” de estar na frente abrindo uma picada, desbravando a floresta da estética. O seu cinema também parece se balançar no picadeiro, sem rede. Não pede a rede poída de todas as convenções que se criou para o cinema. essa arte industrial…

Cris Miranda: Sim, o risco é fundamental, por isso faço questão de riscar as imagens, para expressar esse perigo luminoso que é a arte, incisão e paixão.

MCA:O futuro do cinema será menos careta?

Cris Miranda: Menos careta? Espero que sim! Hoje todo mundo filma, estamos num tremendo workshop mundial de fotografia e video. Isso que pode parecer uma banalização, pode ser também um mergulho que nossa cultura está dando nessa poderosa linguagem que é o cinema.  Estamos todos reaprendendo a lidar com a imagem, algo de muito incrível pode vir daí. todos saberemos, filmar e editar, saberemos como transformar os significados com a imagem em movimento…de alguma forma uma nova poética virá desta enorme democratização dos instrumentos da imagem.

MCA: O seu processo lembra a de um alquimista; ou de uma cozinheira. Revelando um negativo na banheira, botando “temperos”, esperando dar caldo. Tem algo de místico ai? Ou é só brincar com o acaso?

Cris Miranda:  É uma alquimia de cozinha sim, tão místico quanto fazer café de manhã. Esperar a imagem atravessar seu percurso no escuro, para reencontra-la nos pequenos retângulos da película. Já outra coisa daquilo que vi, já com seu próprio desejo, seu próprio mistério.  É brincar com o acaso também, solicita-lo no seu gigantismo de significados.

Still de Maça com Cheiro de Gasolina

MCA: Fale sobre “Maça com gosto de Gasolina” O que te levou a fazer o filme?

Cris Miranda: Quando voltei do méxico percebi que passava sempre por uma estátua do Cuahutemoc, sem saber o que isso significava, era apenas mais uma estatua anônima das praças da cidade.

Cris Miranda:  Depois de ter morado no méxico descobri que aquela estátua era uma homenagem ao último herói asteca, um jovem que lutou com Cortez. Fiquei curiosa de conhecer onde estariam as outras estátuas de nossos heróis da libertação latino americana. Então descobri a estatua do Bolivar, escondida numa mini praça em frente a um shoping center. O filme é uma homenagem a esses heróis. E um caminho atento pelas ruas da cidade do Rio, buscando os segredos escondidos naquilo que não conseguimos separar do caos urbano.

MCA:E o olhar nesse caminho é o dos grafiteiros. porque? A escolha deles como personagens se deu como?

Cris Miranda: Sim esse é o olhar dos grafiteiros, essa é a postura do grafite: se misturar com aquilo que some no caos e retornar com outro significado, outra impressão da cidade. Uma apropriação da rua como um espaço nosso, que ocupamos e resignificamos.

A estátua de Cuauhtémoc na Cidade do México – México.

MCA: A câmera 16mm, usada no filme, da Fevereiro Filmes, do brother Márcio Melges, pode contar um pouco da história no cine independente carioca. Ah, se ela falasse… Por que filmar em 16mm?

Cris Miranda: Porque é lindo!:-)

MCA: Você acha que podem parar de fabricar?

Cris Miranda: É possível.  Por enquanto estamos usando.  Por que pensar no futuro?

MCA: Mesmo com a data vencida…

Cris Miranda:Isso!!

MCA: Mas… falando em futuro. Qual a expectativa pra sessão? Você que já exibiu filme lá, qual é o sabor de uma sessão mate com angu?

Cris Miranda: É maravilhoso! As sessões do mate são sempre as melhores sessões!  Um luxo poder mostrar um filme na Catapulta. É a melhor garantia para se sentir vivo de verdade.

MCA:  A gente fica super honrado. É a mistura de todos nós que faz o caldo engrossar. Obrigado pela entrevista e por existir.

Cris Miranda: Valeu!!!! É nós voando! como diz o josi*….

Simón Bolívar Vive!

*Josinaldo Medeiros – Mateano

Pra compartilhar pelaí

Sobre Mate Com Angu

Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.
Adicionar a favoritos link permanente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.