Há dois anos atrás fui convidado para participar de um programa de TV ao vivo onde o tema era o boom da produção audiovisual na periferia. Se não me engano a mesa era formada por um representante do ministério da cultura, uma antropóloga e um ativista cultural. Eu e mais um criador de filmes periféricos fomos colocados em uma pequena sala ao lado do estúdio principal por que não cabíamos, lá só cabiam os três convidados e a apresentadora do programa. As intervenções dos objetos, da tese que era debatida no estúdio principal, só rolavam se solicitado a uma simpática produtora, que então encaminhava via link à apresentadora do programa. E quando havia uma pausa no debate, nos era dado um tempo pra falar. Para piorar a situação, quando o programa estava terminando, um tiroteio começava lá fora (a produtora, que era toda blindada, ficava no Rio Comprido e os morros estavam em guerra), estávamos ao vivo, e o espectador mais atento poderia ouvir a trilha sonora especial enquanto a apresentadora se despedia com um sorriso amarelo. Essa experiência foi emblemática pra mim e pra emissora. Um tempo depois, me disseram que fomos os últimos a participar do programa naquele formato.
Não tive como não lembrar desta cena, enquanto assistia ao Programa do Jô com o Cacá Diegues, na última quarta-feira. O assunto era o 5x Favela e os diretores do filme estavam na platéia. Pouca coisa pode ser ouvida daquelas pessoas que devem ter tido uma das experiências mais fantásticas de suas vidas. E aquele sofá tão grande, tão vazio…
Na sala escura é o olhar destes cineastas periféricos que é protagonista, mas sob os holofotes estas vozes não aparecem, nos curtos segundos televisivos que são dados aos nossos amigos eles tentam dizer o quanto de caroço há por baixo desse angu, mas as perguntas prontas das rasas pautas da comunicação de massa não deixam, calam. É um desperdício de tempo, uma falta de criatividade e uma irresponsabilidade. O que poderia ser onda televisiva transmitindo novas vozes, ricas em nuances, perspectivas, posicionamento e criatividade é cambiado pela cara de paisagem dos diretores do filme, meio constrangedor, meio triste.
Tenho acompanhado a cobertura do 5x e só tem dado Cacá. Quero ouvir meu amigo Cacau, sei o quanto tem a dizer. Quero ouvir o que a Manaíra carrega no peito. Quero surpresa, novidade e brilho. Não a mesmice. Não que Cacá seja a mesmice, Caca Diegues é foda. Bato palma para a iniciativa e para o coração que ele demonstrou ter. Mas a perspectiva é a mesma. Com todo respeito do mundo Cacá, 5x não é apenas um filme, é algo muito maior.
Tenho 30 anos e nunca vi uma política tão segregadora como agora vejo no Rio, a política sem substância das UPP´s, clareia um novo mapa para o Rio de Janeiro: uma redoma esta sendo construída para abrigar as Olimpíadas e a Copa do Mundo, criando uma nova fronteira do que é centro e o que é periferia. Vejo muros sendo construídos em volta de favelas, vejo ocupações de sem teto sendo marginalizadas e desmobilizadas no centro da cidade, As fronteiras estão cada vez mais claras, as distancias dilatam-se… e mais um centro cultural sendo construído no centro do Rio.
O lançamento do 5x é uma oportunidade única de dar voz aos que vivem além da linha vermelha, não adianta o Cacá falar por eles. A mesma sábia estratégia deste grande diretor do cinema novo de não interferir no olhar apresentado no filme, deveria ter sido encarada neste momento de colocar o filme na roda da grande mídia. O que se leu nos jornais e nas ondas do rádio, foi a voz de sempre. Que vem “deles” e não de “nós”.
É noise,
Igor barradas
Cineclube MateCom Angu
O Cerol Fininho da Baixada
Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.
Existe um 5X Favela, muito além do Cacá Diegues…
Infelizmente ele é eclipsado.
assino embaixo