É papo de velho, mas a cada ano que passa o tempo parece andar mais
rápido. Ontem mesmo passamos uma sessão cineclubista carnavalesca,
crítica e cheia de novidades. E num delírio catapultávamos filmes ao espaço
na sessão do mês passado. O Mate é uma teia onde filmes que navegam
perdidos no espaço vão parar. E desse encontro misterioso vamos inventando
conclusões, cenários particulares do que é o audiovisual independe nacional.
Podemos dizer que surgiram filmes curtos mais longos. Filmes rompendo a
barreira dos 20 minutos, o que há alguns anos era considerado sacrilégio.
Os tempos dos filmes também se dilataram, planos longos tencionando a sede
por um corte que salve.
As próprias sessões mateanas parecem que teve seu tempo dilatado – esse ano exibimos três longas metragens nas sessões regulares de quarta, coisa que nunca tínhamos feito. E outra: filmes baratos. Obras, que, se não foram feitas sem orçamento (qual filme é?), custaram 5%, 10%, do valor de um longa de mercado. Provando que dá pra fazer um cinema mais sustentável e menos deslumbrado. Ou seja, o Mate exibiu três longas porque estão começando a fazer longas com a cara do Mate. Eita.
Outro desenho que vem assim na cabeça é que os filmes parecem que estão
perdendo o medo da ficção, da invenção. Um cinema desvinculado da sociologia
dos editais e da lógica do marketing empresarial; um Cinema sem rancor com
muita coisa pra mostrar sem intelectualizações bestas. Um cinema da ação e
não da reflexão (a reflexão tá na ação!). Um Cinema que parece ser a aurora
de uma estética popular. Direta, sem atravessadores. Que não vê oposição entre
a experimentação e o popular.
2011 ano foi o ano também que caiu a ficha de que os Festivais de Cinema não dão mais conta da produção do país. Mesmo. Se antes toda curadoria era predatória, hoje ela é um ponto de crochê. Um recorte no mar gigantesco de produções. Recorte esse, que pode ser sofisticado ou criminoso. Dar o recorte nos dias de hoje é um profissão perigosa.
Na noite de hoje, mais um recorte. Imperfeito, infiel, torto, extrato. Mas vistoso,
saboroso, nutritivo. Filmes curtas longos, pra dilatar a mente e o coração, para
uma nova possibilidade de mundo.
PROGRAMA
“Recife Frio”, de Kleber Mendonça Filho
Cor, 35 mm. 23 min, Documentário ;-), 2009, PE
A cidade brasileira de Recife, que já foi tropical, agora é fria, chuvosa e triste, depois de passar por uma desconhecida mudança climática.
“Dias de Greve“, Ardiley Queiroz
Cor, 35mm, 24min, Ficção, 2009, Ceilândia – DF
Uma greve de metalúrgicos tem início em uma cidade nos arredores de Brasília. Muito mais do que o despertar para uma consciência de classe, os grevistas redescobrem uma cidade que já não lhes pertence.
“ACERCADACANA”, de Felipe Peres Calheiros
20′, cor, Doc, 35mm, 2010 – PE
Os anos 90, com a valorização do etanol e a expansão do latifúndio canavieiro, 15 mil famílias foram expulsas dos seus sítios na zona da mata de Pernambuco. Maria Francisca decidiu resistir.
“Salomé”, de Fernando Gerheim
[20 min | HD | cor | fic | COPACABANA – RJ]
Com Marcela Moura, João Velho, Alexandre Dacosta e Rodrigo Lacerda
Participações especiais: mona Rubi e mona Estefani
Um exemplar do baixo surrealismo. Um cruzamento de Georges Bataille com Zé do Caixão. Cinema marginal digital. O defeito de fabricação da indústria dos sonhos. O vídeo pensa o cinema. Tecnoartesania ou morte.
Lavagem, de Shiko.
[20 min | HD | cor | fic | Brasil]
COM: MARIAH TEIXEIRA, TAVINHO TEIXEIRA, OMAR BRITO E JOÃO FAISSAL
Quando o disco da Xuxa gira ao contrário, não se assuste, muita coisa pode acontecer.
“Ensaio de Cinema”, de Allan Ribeiro.
Com: Gatto Larsen e Rubens Barbot
Cor, HD/35mm, 15min, Ficção, 2009, RJ
Ele dizia que o filme começava com uma câmera muito suave, com um zoom muito delicado, e avançava em busca de barbot.
Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.