Uma verdade cruel é que a gente gasta uma energia imensa com quem devia ser aliado nas lutas diárias por um mundo mais humanizado. O tal do “fogo amigo” é só um dos aspectos desse fenômeno da falta de diálogo e da competição desnecessária que grassa principalmente no segmento cultural. Na Baixada Fluminense, então, isso é sintomático e comum.
É um tal de fulano que não fala com sicrano; é o grupo que detona o trabalho do outro muitas vezes sem nem mesmo conhecer o mínimo dele; um tal de “se beltrano tiver no meio então não presta”; é a banalização da ética da boataria; são as puxações de tapete como se derrubar o outro fosse garantia de grandes louros nesse ambiente que nos massacra a todos, e a certas áreas com ainda mais crueldade.
O mais louco disso é que várias tretas que empacam processos maneiros e ricos na região, geralmente são mal-entendidos surgidos por falta de comunicação, por falta de dar uma respirada, de dar uma chance para o entendimento do outro. Várias mágoas que vão se tornando cicatrizes incuráveis, se fossem analisadas e reconstituídas suas origens, certamente evidenciariam a precipitação nas reações, o preconceito e a pressa em julgar.
O ruim disso tudo é que quem perde não é um ou outro – quem perde é todo mundo. E na Baixada, os que detem o dinheiro e/ou as armas e/ou os mandatos, brigam, brigam, mas no fundo estão sempre de bem e sempre observando esse povo da cultura e dos movimentos sociais como um bando de malucos, desorganizados e, por consequência, inofensivos… Já passou da hora da gente se juntar mais, se olhar mais no olho e conspirar – palavra que vem de co-inspirar, inspirar juntos.
A gente precisa conversar, precisa de presença. Olho no olho é um chamado pra olhar para o outro, encarar, trocar. Comunicação é amor, é cuidado, é se importar. Enquanto o ressentimento engessa, o olhar derrete; o despeito empedra, o afeto amacia; a mágoa pesa, a escuta alivia. Precisamos nos ver mais e multiplicar os olhares através dos espelhos. O carnal em vez do virtual. Aquele momento de mergulhar profundamente no olhar do amigo e dizer o que tem que se dizer. O papo reto.
Menos caô, menos esperteza, menos se fazer de bonzinho, menos fingir que não conhece, menos hipocrisia, menos indiretas no facebook. Mais olho no olho, mais conversa, mais arte na veia, mais um Dia da Baixada, mais respiração, mais Cinema, menos cenário.
Como disse o amigo Wesley dia desses em um texto na Internet: “a economia criativa da Baixada Fluminense precisa ser maior do que as picuinhas.”
Portanto, o convite, a sugestão é essa: abra o coração e dê uma chance ao diálogo, ao entendimento, ao perdão. Saia do facebook e chame aquela pessoa pra uma conversa ao vivo, uma cerveja, um café. Quem sabe a gente não tem criado monstros desnecessários? Vale arriscar.
Abraços quentes,
Cineclube Mate Com Angu
13 anos olhando nos olhos
Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.