Nove anos… Caraca, 9 anos!! Nove intensos anos de Cinema, amizade, estudos, realizações e criação de caso – é o Mate Com Angu na área, cineclube barulhento da porra.
9 anos, nove luas, nove meses de gravidez, nove buracos no corpo humano, nove dedos do Lula, o eneagrama dos sábios da Pérsia, o Corredor X do Speed Racer, o clássico Plan Nine, do Ed Wood…
A soma dos componentes dos múltiplos de nove, resulta no numero nove. Muita coisa pra dizer e o tempo urge. E quando a gente vê, estamos aqui de novo em noite de festa.
E com felicidade explosiva de estar comemorando o aniversário da melhor forma possível: lançando filmes e fazendo festa. Fazendo música, jogando bola…
E lançando filmes com toque especialíssimos: pratas da cidade, caxienses mundiais, antenados, inquietos e com tesão de primeiro filme na direção. Na direção do infinito.
Um deles, O Vento Forte do Levante, traz ainda por cima a figura inspiradora de Solano Trindade, um cara incrível que sonhou muito e lutou por um país melhor; pôs na poesia a dor e a delícia que ainda não tinha sido dita com o toque talentoso da Poesia viva. E um cara que viveu em Caxias, cidade onde produziu obras primas, onde bebeu cerveja com o povo, onde trouxe vários intelectuais para dar uns bordejos nas quebradas, onde curtiu o carnaval da Cartolinhas, morando na mesma rua que o Seu Hélio Cabral, outro cabra da peste bom de arte e ação.
Enfim, Solano é nós.
Embora, passados mais de 50 anos do poema, ainda tem gente passando fome; o trem hoje é mais limpo, mas ainda se dá chicotada no povo, herança maldita de um tempo que teima em querer não morrer.
Mas há gente que não desiste nunca, pois é feita de matéria solana e deliciosamente brasileira, tateando novos caminhos, na luta diária, mas sem esquecer o poder da festa, da kizomba, do mosh e da Arte.
É isso… 9 anos e o Mate continua cheio de nove horas, todo prosa, assim como a gente escrevia lá atrás: na fé, na humildade, da moral. Cultura para uma melhor digestão.
Afinal, é sempre bom ter os amigos por perto, portanto vida longa aos novos cinemas nascentes e viva a alegria! Partiu comemorar?
Abraços novísticos,
Cineclube Mate Com Angu
o cerol fininho da baixada
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Sem fome e famélicos…Quem dera que a nossa fome fosse exterminada do mesmo jeito que exterminamos nosso tédio ocasional com um mate gelado e um angu tenro e terno…
O poeta está vivo e hoje nem estou falando do Cazuza, tou falando de um que está mais pra preto velho, ou preto zuza…ZUZUBEM….
Solano vem solando as calçadas cheias de chafariz(chafarizes? Torto feito nariz de bruxa…Com letras versos um universo de letras e tretas, pois ser poeta em Dallas City é barra ou carga pesada…
Viva a trindade…VIVER…AMAR…SER…
Viva o trindade…ESCREVER…LER…VER…
Sumariamente estamos aqui nessa noite pra falar que sim, a fome tá aí, boladona ainda batendo com os nós dos dedos na nossa porta…E sabemos que no pais do futuro o futuro nem é tão “futurístico”assim, enfim…
Abram as cortinas, soltem o verbo, limpem a retina pois o mate tem o prato cheio de poemas e vale a pena ser, amar e viver..
Retornar ao primeiro momento do encantamento de ver algo belo é como comer um prato de feijão com tudo dentro…
E o trem agora grafitado e ainda atrasado nos traz nos trilhos o brilho de estrofes ritmadas… So-la- no-so-la-no-tchatac-thatac…
Libertariamente e abusadamente tomando a porra da praça de assalto com duas magnun 44 de poemas até a ponta…Tipo Taxi Driver correndo contra a insônia sempre lembrando que com amônia causa insônia!!
Sonoro, cáustico e corrosivo, mas leve, lúdico e fugaz mate com angu mata a fome de geral e nem é 1 real, nem pra vc nem pro garotinho…
E tome poesia e filmes goela abaixo porque pra baixo todo “canto” ajuda!!
[slow]
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“Quem diria”
5 horas
Já estou acordado
5 e vinte
Caminhando pela rua
À luz da lua
Os braços cruzados ajudam a suportar o frio
Perdi um trem
Tá com fo-me
Tá com fo-me
“Trem com destino à Central do Brasil. 5 e 44, plataforma B”
Lotado
Lembrei de Solano Trindade
Tá com fo-me
Tá com fo-me
Daqui a pouco estou na Central
“Aê! Me vê um pastel e um caldo”
Quem diria
Que seria
Poesia
O dia a dia
Da periferia
[cacau amaral]
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E o brilho do sol aumenta o devaneio do ácido estomacal violento…
E o trilho do trem treme com o rugido que sai do esôfago para o vento…
E o sucrilho do boy desce pelo ralo aberto do esgoto do apartamento
E a fome da poesia de Solano segue atravessando aqui por dentro…
[slow]
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e você tem fome de quê?
tem gente com fome
essa gente é você?
eu sinto fome todo dia
de cor, tempero, rima, flor, doce, ponte,
pedal, pedaleira
de sabor, tênis macio, pele macia,
cama quente, roque pesado.
tem dia que tem fome até de dor.
e caminho entre famintos!
ânsias insaciáveis…
antropófagos de nós mesmos. e de chips
e de sonhos, virtuais…
vejo a fome de hoje
no reflexo de ontem.
na bandeja suja dos que comem
sob nossas cabeças, nos oferecem migalhas.
queremos o pote!
se a arte é o que nos nutre,
a cultura o que nos diversifica.
vamos celebrar nessa mesa posta,
vamos nos saciar. e depois, sentir outras fomes,
que nos farão continuar amassando a massa.
fortalecidos. em nossa busca pelo múltiplo e orgânico.
evoé solano trindade.
.[biapimenta]
Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.