Rodrigo Dutra é caxiense de militância e coração. Tem 28 anos, é historiador, poeta, documentarista e pai de Sofia. Lança na próxima quarta o filme mais esperado do ano “O Vento Forte do Levante”, sobre o poeta do povo, Solano Trindade. O Lançamento faz parte da Sessão Tem Gente Com Fome – 9 anos de Mate Com Angu. A expectativa do filme é grande. É tanta, que fez o Mate promover sua tradicional sessão mensal no Teatro Raul Cortez. Noite de Gala, que teima em não chegar. Pra suavizar a espera, um papo franco com Rodrigo Dutra.
Mate Com Angu: Qual é a sua relação com a cidade? Quando as contradições dessa cidade fisgaram seu coração?
Rodrigo Dutra: Minha relação com Caxias é de mulher traída… no caso eu sou a mulher…
Por mais que eu critique os (des)governos, não consigo deixar de amar essa cidade. comecei a me rebelar com uns 15 anos, na UEDC, não parei mais.
MCA: O que Duque de Caxias tem de bom?
Rodrigo: São três coisas que me encantam: as pessoas que conheço, os terreiros de macumba – terreiros igual aqui não existe no Brasil – e as cachoeiras.
MCA: E como se deu o encontro com o Solano?
Rodrigo: Foi ridículo… Eu historiador e não o conhecia. Foi o Antônio da Biblioteca que me apresentou e me cativou a fazer um filme sobre o Solano, ele havia visto os filmes da AnguTV! E como tínhamos estudado juntos na FEUDUC, ele me pilhou.
MCA: A relação deste filme com a Academia?
O debate teórico que eu faço é sobre a relação cinema-história. O historiador é treinado a interpretar documentos escritos e a imagem sempre foi um adereço para a maioria deles. Pretendo escrever a história filmicamente coisa que os historiadores poderiam fazer melhor do que qualquer um, pois tecnicamente são treinados para dar sentido ao passado. Cinema e história se confundem pois as duas trabalham com a idéia de TEMPO e a manipulação deste faz a história e o filme.
MCA: Tudo bem que o Antônio botou a pilha. Mas o que em Solano te mobilizou a ponto de fazer tu se dedicar três anos a esta história?
Rodrigo: Sei lá… me apaixonei pelo cara. Ele foi comunista e se vivesse na nossa contemporaneidade seria um artista multimídia. Essa coisa de paixão não se explica muito.
MCA: Mas o que Solano tem de atual? Porque fazer um filme sobre ele?
Rodrigo: Solano é atual por que está sendo redescoberto por uma juventude carente de identidade. Quem são nossos heróis? Duque de Caxias que não é! Solano é atual por que ainda TEM GENTE COM FOME. E o freio de ar todo autoritário ainda cala o trem.
MCA: O que faz de Solano um herói?
Rodrigo: Acho que o Solano é um herói (sem endeusamento e o filme é bem crítico em relação a isso) por que enquanto negro se inseriu na sociedade capitalista sem se curvar, sem se acomodar, sem se deixar cooptar, morreu na miséria mas/contudo/conquanto/porque escolheu a liberdade.
MCA: E nos dias de hoje, há espaço pra novos heróis?
Rodrigo: Na sociedade pós-moderna? não! Absolutamente. Nossa juventude é egoísta demais “é muita estrela pra pouca constelação”.
MCA: Os historiadores tendem a serem pessimistas e céticos…
Rodrigo: Nossa sociedade caminha para o colapso total. Principalmente em relação ao meio ambiente. Daqui a 100 anos não teremos mais agua para beber. Nosso corpo é 70% água e sem ela não teremos humano. E sem humano, sem história, sem documentos, sem arte, sem nada!!!
MCA: Fazer um filme de forma independente é um ato utópico, quase romântico. Por que se meter nessa aventura? Qual é o papel da arte?
Rodrigo: Por acreditar que só se pode combater as ilusões no terrenos das ilusões. Hoje as questões são mais simbólicas que materiais, então o que quero é fazer contra-hegemonia. Já fui um entusiasta da arte engajada, mas hoje acredito que escolas e ideologias atrapalham o processo criativo, a arte deve ser crítica quando há inspiração, não é legal forçar a barra, pois a catarse também cabe a arte! E se cabe.
MCA: E sobre quarta, quais são as expectativas?
Rodrigo: Bicho, vou estrear no cineclube mais famoso do estado do Rio de Janeiro, minha expectativa é bombar e quem sabe arrumar uma namorada. 🙂
MCA: Mate Com Angu, 9 anos…e ai?
E aí que toda essa aventura estética-documental-conceitual iniciou para mim no Mate através da AnguTv! A única coisa que posso dizer é vida longa ao Mate Com Angu para que possamos ver filmes vários e articular a contravenção.
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Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.
Falar O Que?…Tudo Estah Dito…E Muito Bem Dito…parabens Igor Pela Condução Da Entrevista…O Buscador Do Extremo…Poderia Ser Teu Nick…E Quanto Ao rodrigo (Tem Certeza Q Naum estava No Donana?…ahahahahah)…Maravilha de Teses Naturais De Vida E De Profissional…Escorregou Fácil E Sem Explodir Pelos Extremos Armadilhados Do igor…Acho Que Vou Publicar Esta Em Meu Blogg…Posso?
Mil Abraços e Ateh Amanhã
Da Poesia Portuguesa Contemporânea: De Jorge De Souza Braga…” Soh Tenho Uma Ponta De Cigarro Pra Fumar…E Para Apagá-la…Todo O Mar”
Rapá as perguntas desse Barradão são muito capciosas, mas o rótulo de “utópico pessimista” ficou por conta dele!!!!
Syvio. obrigado pelas palavras. e fique a vontade em publicar no seu blog. é noise.
Viva os Historiadores não-oficiais!!!! Solanamente revolucionários!
Valeu ao Mate pela força!
Dizer o quê? É o Rodrigo. Mais maduro e, como sempre, apaixonado pelo arte. Valeu meu historiador diletante!!!
Leozinho te amo meu véio… só isso que tenho para lhe dizer!!! E muitas saudades de um tempo que não volta mais…
Tô lá Rodrigo!!! A história é feita por sangue novo e construída por provocadores do pensar. É 3D? Valeu MATE!!! Valeu GALERA!!!
Eu conheci esse Rodrigo Dutra em especial como Aluna, no colégio Freinet. Onde “trabalhamos” à base de história – a história mesmo eu não prestava muita atenção! Fico feliz em saber que está rasgando o mundo como toda essa ousadia e personalidade. Pena ter cortado as madeixas!
Abç!
Crédito das fotografias:
1 – Samitri Bará
2 – Amenduin Duim
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