É incrível como muitas vezes a gente vai aceitando passivamente os discursos ventilados nos grandes meios de comunicação, difundidos como quem não quer nada e que de uma hora pra outra, pronto, viram ações legitimadas pela chamada opinião pública.
O mais recente desses discursos é o tal choque de ordem, propalado aos quatro ventos como a solução para todos os problemas e elevado a novo mantra dos tecnocratas de plantão, aqueles mesmos que mais atrapalham do que ajudam.
Parece papo de perseguição, conspiração e coisa e tal – e talvez seja mesmo! O fato é que o Estado do Rio vive um momento de adesão à tal política de choque de ordem, mesmo quando ninguém entenda exatamente de que ordem estão falando.
O Mate Com Angu vai falar disso, metendo o dedo de com força nessa discussão.
Primeiramente esse discurso em voga não é exatamente novo na história política do país. Foi com o discurso de choque de ordem, de civilização, de acabar com a bagunça e nomes afins que o país entrou em grandes roubadas ao longo de sua história. Haja vista o bota-abaixo do Pereira Passos, as pregações de Carlos Lacerda, a vassoura de Jânio Quadros, o golpe de 64, entre outros, que parecem revelar sempre a mesma pedra no sapato dos encastelados no poder: o que fazer com o povo, com aquela gente miscigenada e amontoada nos morros e palafitas das cidades?
Acredite: esse discurso saneador, de assepsia, de limpeza, representa um dos mais perigosos discursos em tempos conturbados como o nosso. Justamente porque ele legitima práticas totalmente condenáveis de exceção, perseguição, rotulação, criminalização.
Seja na cidade do Rio, em Duque de Caxias, em Macaé etc, o discurso do choque de ordem bota abaixo sem discussão a história, a cultura, a vida das pessoas, antes que se possa argumentar com a lógica, com o bom senso. Exatamente o que fazia a ideologia do nazi-fascismo. Parece exagero, mas esse discurso – e sua prática sumária – é uma prima de primeiro grau dos linchamentos de mendigos, da queima de índios nos pontos de ônibus, das surras em prostitutas na madrugada. Tudo em nome da “ordem”, da “limpeza” das ruas, do “ordenamento”, da “organização”, da assepsia, do “bom visual”.
Por muito menos a sociedade já viu abusos desumanos decorridos disso. A ditadura militar, por exemplo, fez esse quadro recrudescer de maneira dramática: enquanto a classe média curtia o consumo nas ondas do milagre econômico as cidades aprofundavam uma fenda que hoje chega às raias do inconciliável… Só um gênio como Bezerra da Silva pra testemunhar e relatar a vida da população por volta de 70 e 80…
Quando Nelson Pereira dos Santos filmou Rio 40 Graus, em 55, descortinou-se um Rio de Janeiro que melava o culto cartão-postal do Redentor, da Princesinha do Mar, do Pão de Açúcar, do Cassino da Urca, dos famosos bailes onde as pessoas curtiam felizes as delícias proporcionadas pela geografia generosa da Cidade Maravilhosa… Hoje aquele Rio mostrado pela primeira vez na tela tomou conta e parece muito maior e mais “perigoso”. Receita: criar mecanismos para criminalizar o povo. Limpar as ruas. Ordenar a Zona Sul do Rio. Choque de Ordem neles.
Porque afinal de contas, essa política também é extremamente covarde: primeiro baixamos o cacete nos informais, nos malditos camelôs, nos biscateiros ilegais que atravancam o progresso do país… Depois, se der tempo, podemos desconcentrar a renda, fazer reforma agrária, prender os corruptos e fazê-los devolver o dinheiro, essas coisas. Depois. Agora não. O valente só é valente em relação ao mais fraco. Qualé, choque?…
E pior do que a ideologia posta em prática é o silêncio das camadas que poderiam protestar, intervir, fazer barulho. Não falamos nem do silêncio e da conivência da grande imprensa porque esta já está caindo até no ridículo, como é o caso da revista Veja, por exemplo. É muito perigoso que esse discurso vá contaminando a sociedade e ninguém revide.
O velho Heráclito de Éfeso há 2.500 anos atrás já dizia: a harmonia oculta é superior à aparente. Sábio, profundo isso. E agora é o momento de ousar novas ordens, aprender com a criatividade. O Brasil é de fato o criador da Nova Ordem Mundial, filha da Cultura, do Improviso, da Convivência, da Música como ordenação. É preciso um novo sentido para ORDEM. MEDRO. MDORE. EDROM. MORDE. DORME.
Enquanto os políticos que estão aí oscilam ou entre o banditismo explícito saqueador dos cofres públicos ou o salto alto da geração Barra da Tijuca, estamos lascados. Mas somos uma minoria barulhenta e não estamos sós.
Sem o velho vício de falar em nome do povo, o Mate Com Agu propõe hoje uma reflexão sobre que modelo de cidade queremos. Algumas coisas já sabemos: com distribuição de renda e com mais http://cialisvsviagracomparison.com/ imaginação. Mais arte e mais comida no prato. Mais cidadania e mais sexo. Mais respeito e mais diversão. A ordem é a desordem de ser humano.
Resumindo:
1) choque de ordem é o caralho!
2) E QUEM DÁ CHOQUE NO ESTADO?
Abraços chocantes,
Cineclube Mate Com Angu
7 anos desafinando o coro dos contentes
[texto do programa da sessão Choque de Desordem, realizada no dia 25/03/2009]
Cineclubismo na veia, desde 2002 agitando o imaginário de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, mundo. Produção Cultural autônoma, guerrilha estética urbana, TAZ.