Ontem terminei de ver a série “Dr. Castor“. Que tem momentos sensacionais. Como diz um entrevistado, não tem como falar do Rio sem falar de Castor de Andrade. Um personagem que encarna as contradições da cidade, carisma, carnaval, futebol e crime organizado.
Mas faltou, retratar as sombras do personagem da mesma maneira que seu carisma é esmiuçado. Sabemos tudo sobre a Mocidade e o Bangu FC, mas ficamos sabendo pouco da corrupção, das coações e dos assassinatos. Em um momento a série grifa uma frase do Castor onde é crítico ao AI-5, quase acreditei ali que ele tinha um posicionamento crítico ao regime.
Mas claro que não, inclusive as imagens do passado desse jogo do bicho comandando por “homens de bem”, nos ajuda a entender as milícias de hoje e da quantidade esmagadora de votos que o Bolsonaro teve no subúrbio do Rio
A série não omite sobre as relações do Jogo do Bicho com o poder até chegar ao Planalto, Do apoio do Castor ao regime. Mas só diz. Não mergulha no assunto. Muito se diz que Castor é violento, mas a narrativa não mostra com o mesmo empenho com que fala do carnaval e do futebol.
Eloy Jupiara, autor do livro “Porões da Contravenção”, funciona quase como um “estraga festas”. Dizendo verdades inconvenientes. Lembrando, olha o Castor era uma cara doente. Mas o que é uma frase dessa, diante da força de ver um maracanã lotado para ver o Bangu na final do Brasileiro?
Os diretores parecem inebriados pelo fascinante material de arquivo. (Eu mesmo não gostaria de estar no lugar deles). Se deixaram levar pelo carisma do personagem.
Ou então, pode ter sido um cuidado, para não mexer com a sensibilidade de quem comanda o jogo do bicho hoje? Será que o lado sombrio de Castor pode ainda constranger pessoas de poder da atualidade?
A maneira genérica com que os diretores tratam as sombras, me fez pensar, será que Castor ainda vive?
[ Igor Barradas ]
Igor Barradas é cineasta, educador audiovisual e pesquisador. Integra o cineclube Mate Com Angu, o Gomeia Galpão Criativo e a Circular Filmes.