Entrevista com Lucas Sá

O Cineclube vai entrevistar os diretores que vão lançar filmes na Sessão Catapulta, do dia 31 de outubro. O primeiro entrevistado é Lucas Sá, maranhense de São Luís, 20 anos, dirige e produz curtas de terror. Esta no 4º semestre do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Vai lançar na Sessão Catapulta o seu mais recente filme, “O Membro Decaído”.

MCA – Maranhense… É verdade que a coca-cola comprou jesus? o Guaraná Jesus.

Lucas – Comprou, só que só podem comercializar no Maranhão eu acho.

MCA – Membro Decaído, de onde veio a idéia?

Lucas – A ideia nasceu de uma história que meu tio de Salvador me contou no começo de 2011, se não me engano aconteceu com o primo dele. Ele me contou o fato que move o curta em uma viagem para Cachoeira, ia fazer minha matricula em cinema na universidade de lá antes de saber que tinha passado no mesmo curso na UFPEL no RS. Ele me contou e de imediato anotei em um papel a base do roteiro. Há uns dias atrás encontrei esse papel até, tem idéias soltas sobre o curta.

MCA – Então é uma história baseada em fatos reais?

Lucas – Sim, mas o contexto no curta é bem diferente. Eu enfeitei bastante a história original, coloquei lugares e situações que me interessavam narrativamente, e sobretudo, estéticamente. O que tem de “real” na história é a ação principal do roteiro. Eu até pensei em colocar no fim dos créditos que o filme era baseado em fatos reais, mas eu interferi tanto que seria injusto.

MCA – Fale sobre a câmera nunca mostrar o rosto dos atores. Os personagens são braços, pernas, mãos…

Lucas – O que a câmera iria mostra e como ela ia mostrar era o que mais me preocupava na realização. Eu fui escrevendo o roteiro pensando mais por imagens que combinadas com ações iam criando uma linha narrativa coerente com as conseqüências finais. As “ações” no filme são os personagens, aliado com a locação em que essas ações acontecem. Com esse pensamento de que o que importava no filme eram as ações eu fui reduzindo e aproximando a câmera cada vez mais dos membros dos atores, como pernas e mãos. Isso foi tornando o filme cada vez mais frio e mecânico, a cabeça, o membro que carrega maior sentimento de dramatização já não importava mais pra mim.

Sangue de ótima qualidade.

MCA – O cotidiano, a janela do carro, o som da radio, as musicas – também são personagens? “Membro” também me parece um filme sobre a apatia que pode ser o cotidiano…

Lucas – A fotografia do filme é bem rígida e fixa, o tom mecânico que havia comentando já vem trazendo essa ideia. Mas creio que essas imagens que citou fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas, essa comunicação de rotina com quem vê o filme era importante para criar a sensação de que o fato motor do curta é algo comum e que pode acontecer a qualquer momento, uma violência urbana imediata. Os planos do supermercado e os da geladeira também se encaixam nesse conceito de apatia rotineira, são ações repetitivas e aparentemente vazias.

MCA – Em contra-partida, tem a menina voando, numa imagem de liberdade e juventude. Ela me parece uma heroína. Como se esse cotidiano massante, sufocasse uma idéia de liberdade… viajei muito?

Lucas – hahaha viajou um pouco. … A personagem feminina da moto eu criei pensando em uma mulher jovem que se entrega a vários homens, o homem que pilota a moto é um deles, que logo mais pode ser trocado por outro. Talvez essa falsa liberdade (puramente sexual) esteja nisso, no conceito cafona de mulher. Resumindo ela é uma puta livre da cidade, das vingativas!!!

MCA – Mas quem vê o filme, num dá pra entender isso… ela é uma heroína de um frame praticamente. 🙂

Lucas – hahaha – Sim sim, é que ela bem como pano de fundo.

MCA – Sim. ela me parece uma heroína que mata os boçais.

Lucas –  Sim. Bem isso, hahaha –  Uma Femme Fatale desmembrada. Bem no estilo Tarantino, no A Prova de Morte. E meio Dario Argento na parte da arma, uma navalha.

MCA – O sangue é muito bem feito por sinal.

Lucas – Tive cuidado. Aprendi a receita.

Heroína de um frame.

MCA – E o terror no Brasil? Dá samba?

Lucas – Da Sambá sim! O horror nacional está crescendo um monte nos dois últimos anos, e vejo que tem dois lados dele, o horror trash que é acompanhado pelo o Rodrigo Aragão com o Mangue Negro e o A Noito do Chupacabras, junto com Joel Caetano, Felipe M. Guerra e o Petter Baiestorf. E o horror mais intimista e conceitual da Juliana Rojas e Marco Dutra. Não sei se é valido mas posso dizer que tem até mesmo um pouco de horror mais experimental com a forma, como “Nervo Craniano Zero” e “Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos” do curitibano Paulo Biscaia Filho, que utiliza o palco de teatro como cenário para o horror. Em todos essas formas o horror nacional é massa! bem massa! =D

MCA – Também acho que esse angu sai nutritivo. “Mangue Negro” ganhou o Angu de Ouro especial ano passado. O filme impactou a platéia. Foi histórico. Foi foda. Um filme como Mangue Negrou não faria muito sucesso no cinema de circuito? Até quando o terror no Brasil vai ficar no circuito alternativo?

Lucas – Não sei se faria sucesso, talvez pelo fato de não saber como o público reagiria com o filme, a última tentativa de colocar o horror nacional de raiz no mercado foi com o último filme do Mojica, Encarnação do Demônio, não sei como o filme foi na bilheteria e de crítica, mas acho que é preciso investir mais, não deixa de ser um risco o dinheiro envolvido na distribuição em grande escala. Hoje o cinema de horror nacional se encontra mais nos festivais, e esses estão abrindo cada vez mais espaço e possibilidades de criação em cima do gênero. Pensando bem, vejo o clima de horror e violência até mesmo no “O Som ao Redor” do Kleber Mendonça Filho (Ganhou o Festival do Rio), vi o filme em Gramado. O clima de tensão e violência urbana estavam em grande parte dos filmes da programação, principalmente na Mostra Gaúcha. Fiquei bem feliz, com o que talvez seja uma tendência da nova produção brasileira.

MCA – Ótimas notícias. Estamos precisando de um cinema mais fabular. E parece que essa demanda esta no ar. É isso brou. Manda um alô pro público do Mate pra fechar.

Lucas – Opa! Espero que gostem do “O Membro Decaído”, um filme pequeno mas que até agora tem me deixado com um sorrisão na cara! E obrigado ao Mate com Angu pela exibição ai no Rio! Um dos estados que acolheu o filme quando ele ainda era só pepel e ideias. (O Membro Decaído foi selecionado para a oficina de roteiro do festival do rio em 2011).

Trailer de O Membro Decaído, de Lucas Sá

O Membro Decaído

Ano de produção:2012

Diretor:Lucas Sá

Categoria:Ficção

Formato da cópia de exibição:Vídeo H264

Som:Stereo

Cor:Colorido

Janela:16:9

Duração: 17m 30seg

Sinopse: Não, nós prometemos não chorar.

Roteiro:Lucas Sá

Direção:Lucas Sá

Produtor executivo:Rayssa Ewerton e Lucas Sá

Produtor:Rayssa Ewerton e Lucas Sá

Fotografia:Lucas Sá e Airton Rener

Montagem:Lucas Mendonça

Trilha sonora:Lucas Sá

Direção de arte: Rayssa Ewerton e Lucas Sá

Elenco: Gabriel Coelho, Laura Sá, Verbena Régina, João Marcus, Seu Mingau, Guilherme Borges, Gabriel Magalhães

Produtora:MOOD Filmes

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1 comentário em “Entrevista com Lucas Sá”

  1. Adorei a reportagem, espero que o curta te dê mais motivos ainda pra sorrir, pois vc. fica mais bonito ainda sorrindo. Sucesso sempre, te amo.

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