Texto da sessão Mate o Velho – 16mm para o seu prazer

O cinema como o conhecemos hoje é fruto de experiências doidas, marcadas ao longo da história da humanidade e que culminaram naquela loucura que foi a invenção do cinematógrafo, finalizado pelos irmãos Lumière. Aparelho que logo em seus primeiros meses de vida já aportou no Brasil, cheio de graça e predestinação. Daí que o mundo nunca mais foi o mesmo. A luz, um fenômeno físico, transou com a química e passou a revelar mais do que a imagem do ser humano em movimento, mas todo o imaginário do fundo da alma. O olhar passou a ser a janela para mundos infinitos.

E a película reinou absoluta por um século.

Mas, e hoje com o digital virando o padrão de filmagem e exibição? Dá pra ter a mesma magia físico-química de captação da vida através da lente analógica?

Quando a Kodak anunciou o fim da linha de produção dos rolos de filmes uma mudança significativa se sentiu no Cinema enquanto Arte, atingindo em cheio corações dos saudosos e dos tradicionalistas que acreditam que a película é inimitável. E muitas incertezas surgiram e ainda estão pintando, principalmente quando se tenta o exercício cabuloso de prever o que será o mercado do Cinema no futuro. Um futuro em que o projecionista talvez apenas acompanhe os filmes chegando nas salas via satélite – se a profissão existir…

O fato é que apesar de cada um de nós ter sua camerazinha digital no bolso ou na mochila a experiência da película mágica ainda encanta e a noite de hoje é um elogio a toda a magia acumulada em mais de um século de rolos exibidos.

E é uma homenagem a tantas coisas boas proporcionadas ao longo de décadas, como os malucos que levavam projeções pelos rincões do país; os cinemas de bairro que muitas vezes eram as únicas opões de programa cultural para muita gente – salas essas que viraram tempos religiosos ou grandes lojas de departamentos.

A noite de hoje tem gosto de Trapalhões, Bruce Lee, Cine Paz, Mazzaropi, Chaplin, Cinema Novo, pornochanchada e filmes de karatê, daqueles que faziam as pessoas saíram das salas dando osotogaris pra todo o lado…

E fica essa intuição sacada de que o espaço da película hoje é como um laboratório; o analógico como arte, artesanal, arte tesão. O filme em película é agora cada vez mais algo como a alquimia, com seus mistérios e encantamentos – e o inconfundível barulhinho tec-tec-tec-tec…

Que o digital nosso de cada dia possa cada vez mais fazer bater essa onda boa, gostosa e desafiante.

 

Abraços analógicos,

Cineclube Mate Com Angu

cinema para uma melhor digestão

março 2013

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